terça-feira, 10 de junho de 2014

Deixa eu dormir com você essa noite, minha cama ta molhada


 Ele é desses, que vai sumir do nada numa noite de quinta-feira e vai ligar na madruga de sexta às 3h40. Sim, com certeza, eu irei ficar puta da vida com isso - ou - com - ele, e se fosse tempos atrás, na certa iria pensar que ele passou a noite em alguma balada dessas, por aí, se esfregando com aquelas vadiazinhas.
 E eu já sei, ele vai pedir desculpas e mais cinco minutos para poder se explicar, vai dizer que, parou num desses botecos de esquina que sempre ficam próximos as rodoviárias de ônibus, só para tomar uma cerveja. Também vai dizer que acabou fazendo amizade com um cara que estava sozinho encostado no balcão e que, ficou horas escutando o pobre rapaz lamentar sobre sua amada que lhe traiu, e quando foi ver, já estava o - tal - rapaz - corno, o garçom, um carteiro, dois garis, mais 3 rapazes estranhos e ele, discutindo sobre política, religião, futebol, samba e mulher. Ele sempre arruma um jeito de me convencer que, dás 17h até às 3h da manhã não viu a hora passar.
 Você pode esperar uma surpresa dele o mês inteiro, mas, só vai esperar. Ele é um filho da puta, que vai te encher de esperanças porém nunca vai te enganar. Naquele pior dia, que você vai estar toda descabelada, sem maquiagem, com a sua roupa mais básica, que você não está esperando nada de ninguém - nem aquela olhada espontânea daquele cara gatinho no trem. Pois ele vai aparecer no seu trabalho sem avisar, vai sorrir com aquela cara de bobo e vai te presentear, na certa você vai ficar com vergonha e querer matar ele na hora, mas, depois de saber que ele trouxe trufas de maracujá e marula com aqueles bilhetinhos estranhos, a raiva vai passar, sempre passa.
 Eu fico completamente puta, quando ele me liga em pleno domingo às 11h da manhã, querendo ir ao parque, depois ao cinema, jantar às 20h e, se der tempo, ir para Londres e ainda tentar dar um pulinho na África para salvar as criancinhas. Olha, vou te contar viu, aquele ali, você pode esperar tudo dele. Ou nada. Ele não vai te deixar em paz quando você estiver lavando louça, vai arrumar algum jeitinho de chegar por trás e se aproveitar de você, ele vai dar pulos quando te ver nua no banho ou no quarto trocando de roupa, se deixar, faz amor com você ali mesmo. "Eu diria para próxima namorada dele, não pegar elevador juntos, se possível evitar escadas de emergência também, muito menos cair no papinho dele, de dispensar o táxi só porque a lua ta bonita e que é melhor vocês irem andando, ó, qualquer beco ou rua escura é motivo de sexo, pra ele".
 Ele é um idiota, eu quero morrer quando ele me liga às 2h30 da manhã logo numa terça-feira, dizendo que está parado em frente ao meu portão, de samba-canção e regata, e com aquela desculpa esfarrapa, de quê a cama dele estava molhada por conta de uma goteira que havia no teto dele, por isso apareceu pedindo pra dormir na minha. Ele é louco. Droga! E eu sou louca por ele.

Renan Fonseca


segunda-feira, 26 de maio de 2014

Admirador secreto




 Avesso a tudo que prezas por real, sinto-me puxado a um universo paralelo. Neste, sou capaz de ver e ouvir, tocar, cheirar e sentir. Só o que não posso é falar, minhas tentativas de expressão são vãs, minha arte dita fajuta e tudo que é meu descartável. Caminho aqui mais lentamente, gozando do meu observar, vendo as minúcias de cada gesto teu. E eis que noto que já não me é mais importante alertar-te, uma que não me darás atenção e outra que me basta te ver assim como te vejo. Como um explorador que, com as mãos sujas, teme destruir a mais bela flor que já encontrara em sua jornada.

 Sei que em parte és deste lado daí, mas tens dúvida se pertences toda. Por outro lado duvido que toparias vir para o lado de cá, onde o que há de mais atrativo sou eu. Se paro para pensar nem eu viria, quem dirá você. És sempre tão bem acompanhada, tem tanto divertimento e alegria ao teu redor que me contenta só mirar teus sorrisos. Crer que são para mim, que são poemas entoados a nossa felicidade. E é ai que me encontras, sempre com um olhar temeroso desviasse de mim, como quem foge de algo que lhe atormenta.

 De fato eu sei o quão estranho isso lhe parece, sou consciente de que posso lhe causar estranheza e até asco. Mas juro não fazê-lo por mal, não, jamais lhe faria mal algum. É que acho teus traços tão belos, teus olhares tão convidativos que não posso me concentrar no que fazia antes, e quem liga, tudo que sei é gravar-te. Memorizar cada tremor, cada pulsar, para que em meio a meus rabiscos toscos eu consiga reproduzir tamanho esplendor. Para que em minhas estrofes sem métrica, eu saiba reproduzir essa bela dança dos teus lábios ao falar. Que pretensão a minha.

 Dadas as circunstancias, deixar-me ei desvanecer. Torno-me a sombra, se preciso for, só por saber que minha ausência à de te fazer feliz completa. Caminhando em meu mundo sinestésico, psicodélico e etéreo. Longe de tudo que é real a ti, impedindo tudo que lhe possa fazer menção a mim. Para que distante eu possa me tornar próximo, te observando ser feliz por mim.


[Por Leonardo Wolf]






quarta-feira, 30 de abril de 2014

Você tem fome de quê?

 Júlio chega, deita o chão, dorme – dorme não, cochila -, acorda, bebe um leite na caixa mesmo, tenta sorrir, sorri, dessorri, escova os dentes com a pasta vencida, guarda o dedo usado pra a escovação, arruma o tapete, arruma as coisas, guarda as coisas, bebe água da bica pública, escolhe um lugar, arruma o lugar, tira as coisas, arruma as coisas, começa a afinar, a cantar, cantando O Barbeiro de Sevilla. Chega em casa, com 2 reais, pois os outros 5 estão na igreja. Liga o rádio e fica sabendo de todas as notícias dos “talentosíssimos” músicos ostentações e dos “gênios” jogadores de futebol. Com sua ignorância, num barraco no bairro da Maré, ele retira seus livros de Gabo e de Rosa, pensando em, amanhã, pesquisar sobre Einstein ou Gandhi na Biblioteca – caso, dessa vez, possa entrar mesmo sem ter uma Havaianas nos pés.

Por Humberto IV


segunda-feira, 14 de abril de 2014

Confissões não confessadas.

"Na nossa despedida, na minha partida, meu coração sempre fica e você sempre vem, mas não da pra te ter aqui com o meu coração perdido lá na tua casa, dentro do teu quarto jogado na tua cama bagunçada. Eu andei tomando um caminho errado, um rumo meio "coisado," não estava nos meus planos ter encontros fim-de-semanais com você, não estava nos meus planos sentir falta desse teu sorriso em falsete ao longo da semana, assim como também não estava nos meus planos, carregar o cheiro do teu cabelo na minha jaqueta, quando volto pra casa. Eu andei errado tentando fugir desses encontros casuais. Confesso que não estava nos meus planos dizer que teus lábios avermelhados me faz bem e, também confesso que, com toda essa pequenura tua, o teu sorriso ainda é muito grande pra mim. Confesso que estou um pouco assustado com esse lance de apelidos carinhosos, porra, a única coisa que eu não queria confessar é que, o lugar mais aconchegante do mundo esta sendo esse teu par de braços pequenos e, não nego que, é... ah, eu não consigo negar(...)"
-
[Renan Fonseca]


O que não foi e o que era pra ser.


 Avistei de relance um senhor de idade avançada, ele varria com firmeza um monte de folhas. Pude notar que ele varia contra o vento e contra o declive da rua. Eram movimentos mecânicos que, em suma, empurravam perpetuamente o mesmo monte de um lado para o outo. Entre varridas e brisas, ele soltava um resmungo, um sussurro, uma exclamação. Folha a folha ele repassava um ato, uma fala, e um monólogo, empurrava-a para cima e como se o mundo apertasse o play, ele observava-a voltar junto com as imagens daquele dia em questão. Quando o filme termina, ele volta, os olhos retomam o foco e então ele percorre todo o caminho de volta, comentando o ocorrido com aquele que se tornara o seu melhor amigo, ele mesmo. Pouco a pouco as folhas vão se reagrupando com as ideias que já não lhe valiam mais, e com movimentos firmes ele expulsa os pequenos detritos, que voam para longe, deixando apenas as folhas que ali estão e as que ele achava que deveriam estar. Com a pilha limpa ele dá seu último parecer, faz suas indagações finais e conclui, mirando a pilha, que agora já está perfeita, o que aquele dia lhe ensinou. A brisa, entretanto não para e pilha logo muda de forma e adquire um aspecto diferente, toma nova forma e ganha volume. Um novo momento lhe chama atenção e aos poucos os seus olhos se perdem novamente, ele se apoia na vassoura: ”Eis que a mais o que discutir meu velho, acho que uma pilha só não vai dar pra esse caso.”

[Leonardo Wolf.]

sexta-feira, 11 de abril de 2014

É sexta-feira amor




"Hoje é sexta, hoje eu não to pro amor, mas... se você quiser posso estar pra você. Hoje eu não to pra sofá, muito menos pra almofadas felpudinhas em cima do colo, alias, posso estar pra sofá sim, mas não garanto ele do mesmo jeito na manhã seguinte.
Ei? desliga essa TV aí. Coloque um som pra que eu possa te abraçar, ah não, hoje é sexta, xá pra lá, vamos fazer um Funk na cama, depois agente vai de Caetano à Nando Reis.
Xá-me-perder na fumaça desse baseado. Xá-me-perder nesse teu sorriso. Xá-pra-lá-esse-sofá, sá-casa. A noite ta linda, vamos dar um show em alguma praça qualquer por ai, lhe compro aquela garrafa de Curaçau Blue que tanto gosta, e como você sabe, um copo só pra nós dois basta, sempre bebemos no mesmo copo, o brinde maior é no olhar mesmo.
Cê sabe, eu adoro aquela tua calcinha que parece de vovó, sei que tu não é fã de poucos panos, diz ser desconfortável calcinhas pequenas, fica tão sexy com ela, sabia?! mas hoje, pode usar só o vestido mesmo, tu também fica sexy sem nada por baixo.
Adoro escutar tuas gargalhadas, teus engasgos com a fumaça do cannabis, também adoro o jeito que cê fala meu nome, e de formar uma dupla à la Cheech and Chong, chapadão... Sá lua aí? topa mostrar pra ela, que o amor não vesti roupa?"

[Renan Fonseca]

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Guess Who's Back--

Hoje eu sentei num banquinho no meio do meu quintal. É um desses banquinhos pequenos de se apoiar as pernas. De cima dele pude contemplar a vastidão. Com essa imagem me obriguei a escrever. Me obriguei, não por encarar essa uma tarefa árdua. Mas sim por querer saber o que tem dentro de mim que eu não estou vendo. Meu quintal é bem minúsculo mas pude ver longe, não por olhar pra fora mas sim para dentro. Percebo que eu engordei, percebo que as plantas estão morrendo, pensei até que deveria ver o que estão falando de mim on-line. Esse ímpeto quase destruiu tudo o que eu estava prestes a fazer se não fosse minha mania de me contestar. “Você vai chegar lá e notar que não há nada de novo”, as pessoas estão seguindo suas vidas, alguém está almoçando, alguém está gastando dinheiro.
Notei então que eu senti a sua falta. Você que me deu bons motivos para abrir a boca em momentos em que tudo que eu queria era ficar calado. Você tem sido um escape como sempre, e não se sinta mal, te contar o que eu sinto, mesmo que indiretamente me tem feito crescer de maneira inacreditável ao longo desse tempo que passamos juntos. Entretanto eu estive ocupado com miudezas esses últimos tempos, o que me tem impedido de te falar.
Tenho caminhado de cabeça baixa, se bem se lembra meu mundo é mais colorido quando deixo a vista embaçar em direção a um lugar qualquer. Eu continuo indo e vindo só. Sim meu amigo, continuo o mesmo babaca de sempre, jugando e refutando a mim mesmo antes de qualquer contato. Se bem se lembra 98% dos meus relacionamentos terminou no cruzar de olhos. Não sei o porquê, mas algo em mim sempre garante que não mereço, melhor, ninguém merece me ter por perto. Eu que fico mais dentro de mim mesmo que fora devo ser é um belo pé no saco para se conviver.
Eu estou gordo, e de veras preguiçoso. Muito mais do que costumava ser a um tempo atrás. E isso porque antes, algo em mim me fazia lutar para mudar meu quadro geral, isso já não me é mais tão pungente. Não se preocupe (assumo que você tenha se preocupado só pra poder terminar o argumento, não negue ainda!) o fato de ter percebido esse desleixo já me faz mudar automaticamente. Eu devo ter uma espécie de bipolaridade doentia que me deixa cair e desgraça e depois me puxa novamente, só para testar minhas teorias filosóficas e gerar assunto para que tenhamos o que falar.
Em suma voltarei a lutar para estar com você, de pouco em pouco, pois você me faz bem caro amigo. Gostaria de retribuir, mesmo que por um parágrafo em meio ao meu mimimi que já sabe de cor. Vejamos de que absurdos falaremos dessa vez, o que há por vir. E por favor, já que seria um tanto esquizofrênico se você me respondesse agora (enquanto escrevo), sinta-se a vontade para me perguntar. No mais era isso por enquanto, aguarde e confie.


[Leonardo Wolf]


segunda-feira, 31 de março de 2014

Carta para o índio do Pica Pau

[Você pode ler esse texto ao som de: Boyce Avenue - Broken Angel. Vai ser gostoso.]



Se ao te conhecer eu soubesse que iria passar tantas horas do meu dia pensando em você, eu inventaria uma mentira, diria que eu não sei pegar ônibus, e me perco sempre entre uma estação e a outra, sei lá, eu inventaria qualquer desculpa. Eu iria dizer que, meu carro estava sem gasolina ou com os 4 pneus furados, ou que, o volante não estava virando, também poderia dizer que roubaram o meu banco do motorista e que tem uma formiguinha no motor e não quero dar partida para não mata-lá, e que, eu fiquei mais de 3 horas e meia no ponto e nenhum ônibus parou para o meu sinal, cê sabe, eu não sou muito bom com as mentiras, na certa eu iria inventar algo disso.

Hoje eu estou sem a minha paz, e se já não bastasse, estou muitos dias do mês sem você também. Comigo eu só tenho lembranças suas e algumas fotos que vire-mexe você vive me mandando, como se quisesse dizer: Oi, olha como eu estou linda hoje para ir trabalhar, essa camisa eu nunca usei com você, e to com esse batom rosa que você tanto ama me ver usando.

Sabe, isso aqui não é comum pra mim. Sinto que cada vez mais estou ligado a você e você se desligando de mim. Se ao menos passasse pela minha cabeça que eu iria odiar gostar tanto de você assim, eu me perderia naquela noite por qualquer rua dessas aí, eu diria a você que seus olhos são feios e que seu cabelo é horrível e que, eu não gosto de mulher, e-que-eu-sou-um-puta-queima-rosca. Mas evitaria te conhecer. Aquela noite acabou tudo errado, aquela noite foi uma noite errada, e sabe, tenho meu coração partido até hoje por causa disso.

É embaraçoso pra mim, eu odeio quando você me faz esquecer por que eu fiquei bravo contigo, e me arranca um sorriso e mais um outro téco do coração, no fim sempre vivo te pedindo desculpa mesmo estando com a razão, que é uma coisa que eu já não tenho muito, você já deve ter notado que eu não gosto muito de ter razão, péra, não que eu não goste, mais acho que ela e sentimento não combinam muito, a razão deve ser um troço que a ciência inventou pra mandar no sentimento, deve ser isso, só pode ser, e eu odeio quando algo manda nos sentimentos das pessoas, não se assuste, é comum meu.

Hoje já deve fazer alguns bons dias que eu não te vejo, e a comunicação também já não vai nada boa. Dá um friozin na barriga quando o celular vibra, eu penso que é você, mas é só mais uma garota chata que não tem com quem falar. E agora nesses últimos dias, quase nunca é você. Sinto saudade de te ver com aquela toalha enrolada no cabelo, quando cê saia do banho, esses dias eu também tava lembrando de como achava sexy você cozinhando pra mim na tua casa. Eu sei, eu vou de um assunto pro outro, mas é que é muito foda, meu queixo despencava no chão quando você fazia aquele coque no cabelo e sempre ficava alguns fios meio soltos. Pra mim aquilo era a coisa mais linda do mundo, não existi penteado nenhum que te faça ficar mais sexy, igual aquele coque bagunçado que você faz, quando está com preguiça de arrumar o cabelo.

Eu sinto falta até das coisas que a gente ainda não viveu. Eu vou fumar um Back, vou fazer fumaça até formar um sinal gigantesco no céu, igual quando o índio do Pica Pau fazia em volta da fogueira, só pra chamar a sua atenção e dizer que eu ainda to aqui, Ó, te amando, menina feia(!)

[Renan Fonseca]


sábado, 29 de março de 2014


Talvez essa-ausência-sua-seja-até-bom-pra-mim. Oras! Mas que diabos eu to dizendo, quem eu to querendo enganar?
 Sabe, eu já jurei pra mim mesmo que não iria mais sentir a sua falta, mas tudo me faz lembrar você. As gargalhadas que dou, os risos involuntários, queria que você fosse o motivo desses risos, não que você não seja, sabe... é que você anda sempre ausente, então você não acaba sendo mais o motivo da piada.
 Ontem a noite eu sai, fui esquecer um pouco de mim, não, eu não me expressei errado, foi isso mesmo que você entendeu, eu fui-esquecer-um-pouco-de-mim. Porque eu já to cansado do meu "eu", da minha cara de bocó, desses meus olhos baixos, cê acredita, eu to cansado até da minha barba horrenda, resolvi tira-lá. Ontem eu não usei xadrez, nem escrevi e também não escutei Nando Reis. Mas em compensação, já faz uma-hora-e-meia que eu to escutando Coldplay, sim, é aquela musica, é a mesma que eu escutei no inverno passado "The Scientist". E você sabe que até hoje eu não parei pra traduzi-lá, eu não sei amar em inglês.
 Sabe, eu já to pegando o jeito da coisa, to me desfazendo de mim a os poucos. Hoje eu também não tomei muito café, alias, eu coloquei leite no café. Também não li o jornal, e até agora eu to sem escutar Nando Reis, olha que coisa boa. To batendo o record, até agora não li nada do Hugo Rodrigues. Eu sei, é um milagre, mas hoje eu liguei a televisão por uns dez minutos, olha que maravilha, já deveria fazer uns dez meses que eu não ligava, também fiquei um bom tempo na cama. Sabe, até gostei, não é tão ruim assim.
 Eu vou te contar mais uma outra mentira grande agora, vamos lá: Hoje eu não pensei muito em você sabia?! Nem dormi agarrado na tua camiseta da Minnie, também não acendi nenhum incenso ainda. Não to sentindo falta do seu sorriso, muito menos do jeito que cê me chama de Reê, e to pouco me fodendo pelo teus olhos panda. Fiquei sabendo que cê pintou as unhas de uma cor lá que eu não sei o nome, parece com azul mas ta mais pra cinza, percebi que tem uns brilhinhos, ah, mas também dane-se, nem achei tão bonita assim. Eu aspirei a minha cama, deu mó trabalhão, mais também não tem mais nenhum cabelo teu perdido pelo meu travesseiro.
 E por incrível que pareça, nesse domingo que ta um friozinho tão gostoso, nem to sofrendo com a tua ausência. Fiz pipoca de microondas, e dessa vez não queimei. Não to sentindo falta dos teus beijos lambuzentos, muito menos das tuas mordidas na minha barriga, nem das gírias do teu vocabulário, e ta tão bom assim, cê acredita garota?! Agorinha mesmo acabei de escutar uma musica tão gay, e nem pensei em você. Ah, lembrei, tenho mais uma mentira boa pra te contar, lá vai: Eu to me sentindo ótimo, e eu já arrumei outro lugar pra você morar, vou te expulsar da minha cabeça!

[Renan Fonseca]

E deixem que digam, que pensem, que falem



Que os Andrades se tornem Drummonds, ou Dumonts
E que nossos Verrissimos sejam verídicos
Ao passo de Nascimentos Miltonianos
Que Gilbertarão
Seus Tons e Tins
Mas sem parar de Buarquear
Não importa se com Chicos ou Aurélios
Se com Machados ou Rosas
Desde que Papais Noéis Rosas
Presentes com suas Cartolas
E Ouros Pretos e Jotas
Sendo Russos ou Agenores
Robertos ou Erasmos
Ou Ramos ou Ramalhos
Ou Paulos Sérgios Reis
Que guardam os reinos Velosos
Os Autrans, os Limas e os Gonçalves
Contando, claro, os Cardosos
As Meireles, as Lispectores
E os Moraes, que
Reginem-se
Mas que os médicos não virem
Médicis
E que se construam Castelos
Não Brancos
Mas apenas um Toquinho
Um Belchior
De Matogrosso
Sendo Titãs
Ou Paralamas
Ou Djavans,
Arantes e Amados
E Chacrinhas
Com seus Lampiões e
Tiradentes
E Mazzaropis
Com Lobatos e Freires
Zumbis ou Seixas
Gonzagas e seus filhos
Mendes e Cruzes e Arns
E Anysios
Com as mãos, os barcos e os leões de Camões e suas Pessoas.


Por Por Humberto IV

segunda-feira, 17 de março de 2014

Ande comigo pelas ruas cantarolando Cazuza. Berre alto aquela canção do Móveis Coloniais de Acaju - Beijo seu, diz que queria ter escrito ela pra mim. Quando a rua estiver deserta, corra na minha frente e diga que o-bicho-do-mal dos filmes de terror que vivo assistindo, vai me pegar.
Mas se acaso vier algum rapaz desconhecido em nossa direção, segure minha mão e aperte bem forte e, não solte até que ele esteja bem longe, eu não vou ligar se você olhar para ele igual naquela musica do Projota, (o quê que cê quer com a minha nega).
Cê sabe, eu não preciso de marmanjo para me defender, mas é que, mulheres assim como eu, querem se sentir protegidas. Temos que nos sentir protegidas.
Me elogiê na frente dos teus amigos, diz que eu sou a pequena da tua vida. Ah, eu me sinto tão sua quando cê me chama de pequena. Mas quando estivermos a sós, acho engraçado e muito meigo ver você me chamando de Fiona, ou de menina feia, morro de rir.
Peça pra sua irmã te ensinar como fazer brigadeiro de panela, depois do sexo, só coloque a cueca e corra pra cozinha, você ja deve saber que mulheres adoram chocolates depois da transa.
Quando eu estiver brava e te expulsar da minha casa por algum sms que (essas-vadiazinhas) ficam te mandando, não vá embora, fique. Se você for vai ser pior. Eu sei, eu vou te xingar e dizer pra você sumir da minha vida, mas não vá, fique, na hora com certeza eu não saberá o que estou fazendo e no fundo, só preciso de um espaço mas também da sua companhia.
-
Renan Fonseca

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Meu Querido Amigo





São Paulo, 17 de fevereiro de 2014

Meu querido amigo,

Se me perguntares neste exato momento o porquê de eu estar lhe escrevendo, mesmo depois de tudo o que vivemos e do fim que levou nossa doce amizade, entrarei em meus devaneios psicóticos em meio as minhas lembranças e seria até capaz de gritar em frente a teu semblante que é por saudade. Sinto sua falta como uma abelha sente vontade de sugar um último vestígio de mel da mais bela flor vinda de sua última lembrança à beira da morte. Mas se eu tiver que lhe responder, então direi apenas que não sei.
Com um pouco de frequência me pego imaginando como estariam as coisas se ainda nos falássemos e nos víssemos. Mas após esses meus pensamentos retorno à minha realidade e reaprendo a lidar com a situação da perda. Com o tempo eu acabei me acostumando a ignorar muitas das coisas que te traziam de volta às minhas lembranças e meu coração já não pulsa fortemente como costumava acontecer. E me acostumei. Quero acreditar que a separação é apenas uma fase pela qual todos nós devemos passar e, em seguida, pular para o próximo estágio da vida. Então é assim que as coisas são, pois é assim que acredito que elas sejam.
Entenda claramente que acabou, por motivos óbvios ou não, já não importa mais. O que importa é que para mim você foi real, mesmo com todos ao meu redor concordando com o princípio da sua não existência e meu analista me convencendo, em partes, que preciso cuidar da minha saúde mental e você era o motivo de toda essa doença. Se houvesse alguma possibilidade qualquer de tornar tudo isso real tenha a certeza de que eu engoliria esta possibilidade, mas por enquanto deixo estas palavras no túmulo que construímos de tudo o que fizemos. Vem-me à cabeça a possibilidade de uma conexão entre o mundo real e o imaginário de tal forma que faça sentido eu dizer que se eu soubesse que aquela teria sido a última vez, eu teria lhe abraçado mais forte.

É dessa forma que me despeço.

Adeus. Se cuida.

Sua amiga.
                   ____________________________________________________________

Por Beatriz Bicalho
                                                                                                                                      

Vida Social





Um quieto
Dois quietos
Três quietos
Quatro, cinco, 
Cem, mil,
Cem mil
Sem cara
Todos os indivíduos
Quietos, todos olhando para
Seus tablets, celulares e computadores
Engordando, separ-
ando, humilhando,
bebendo refri
cer Veja
Excrevemdo errradu
Sem baruuuuuuuuuuuuuuulho, sem t r á f e g o
sem parada, sem nada
apenas um silêncio mortal, chato, agonizante, perturbador, ridículo
de Quem não faz nada
apenas olha pra uma máquina
Restam aos Loucos - como talvez eu e você -
Duas opções:
Ou nos adequamos a essa vida - ou morte - social
Ou então
Simplesmentemente, 
Apertamos o botão de desligar.


Por Por Humberto IV

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

10 caricaturas de grandes escritores

J. R. R. Tolkien

Edgar Allan Poe

Franz Kafka

Machado de Assis


H. P. Lovecraft


Stephen King

Douglas Adams


Carlos Drummond de Andrade

Clarice Lispector

William Shakespeare




sábado, 8 de fevereiro de 2014

Delíbero que a vida seja brincar com joaninhas na grama




Pensar na vida é algo que eu faço com frequência. Algo como caminhar ou um bom copo de café (e eu gosto muito de café) estimulam uma região do meu cérebro. Posto que não é comum encontrar gente disposta e capacitada (minha ignorância me cega) a discutir comigo, tornei-me múltiplo, cada um com um ponto de vista distinto. O número de personas aumenta a medida que sou capaz de refutar um mesmo assunto de maneira diferente.
Há algum tempo então conclui que os laços que nos atam a vida são muito frágeis, temos tantos defeitos e deficiências que é até fácil compreender o apego ao místico. Diferente do que possa parecer, eu não nego nem afirmo a existência de uma força motora una e indubitável, no entanto a sua importância como moderador de ações é importante ao meu ponto de vista. Eis a questão. O importante é como agimos uns com os outros e não o porquê de o fazermos, correta ou erroneamente. Por amor se cometeram os crimes mais hediondos e as maiores traições (como dito por Maquiavel) entretanto por ódio, tais crimes, também ocorreram, nem mais amenos ou brutais, mas tão intensos quanto. Tais crimes não estão justificados em crenças, mas em condutas desviadas.
A ética outorgada por cada grupo é no mínimo projetada para garantir a sobrevivência do mesmo. Nesse percurso é que os preceitos lindos pregados pelo messias se perderam como se perde o parafuso perfeito entre todos os outros inúteis que estão na caixa de ferragens empoeirada na garagem. Já que foi possível deturpar tais conceitos, seria possível então purifica-los novamente pela mesma ferramenta? Em tese sim, no entanto essa crença é também a perdição, ou uma das que leva as aglomerações fervorosas ao mesmo fim decadente. Abnega-se a razão em detrimento do grupo, e da perpetuação daquela moral. Assim os preceitos perfeitos não são mais o que te fazem estar ali naquela ceita, mas o fato de que você pertence aquela ceita. Ali você tem amor.
Outro fato que concluí é que o fato de sermos seres racionais é na verdade um dos nossos maiores castigos. A urgência que as coisas têm de uma definição foi a maior praga que já nos afligiu. Veja, primeiro somos capazes de nos reconhecer, temos consciência de que existimos e que o mundo a nossa volta nos causa certas impressões. Tais impressões têm padrões distintos de maneira que fomos capazes de qualifica-los em grupos, os sentidos. Entretanto, somos capazes de simular impressões e de gerar estímulo que não tem necessariamente a ver com o mundo a nossa volta, posto que isso não pode ser um sentido, alguém propôs que se tratasse de sentimentos. Sim, a meu ver essas coisas que nos fazem não poder viver sem uma pessoa, ou não poder compartilhar a mesma galáxia com outras, é puramente virtual. Mas com isso não quero garantir que isso não seja importante, muito pelo contrário, isso faz com que sejamos capazes de determinar o que somos, - o que na minha opinião é- a união de todas essas experiências. Já que nos desenvolvemos por podermos virtualizar tais sentimentos, eles são de fato fatores deliberantes em nosso "sucesso" enquanto raça.
Com essas cheguei a uma terceira conclusão. A têm-me compelido a tecer tais teorias faz de mim tão humano e sentimental quanto qualquer outro. Cada um de nos tem a sua própria forma de adorar a própria existência, e de permeá-la com existências que lhe são queridas. A grande beleza nisso tudo está em tecer essas teias, está e conhecer e conviver, estabelecer esses vínculos. A maravilha da vida está em amar, considerar alguém. Note que para mim o amor é tanto exageradamente positivo quanto plenamente negativo, e assim por termos sido ensinados que amor é só coisa boa, demos o nome de ódio, no entanto trata-se de um mesmo sentimento em duas facetas. Sentir os cheiros, pisar nas superfícies, tocar os cabelos e saborear o que há são o que faz valer a pena. E se por saber que a cada instante algo plenamente novo pode surgir, você quer perder o esplendor da novidade?

Leonardo Leite.

sábado, 11 de janeiro de 2014

MUDANÇA

Engraçado é quando você nota que
Cada chão pisado,
Cada palavra dita,
Cada nota tocada,
Se torna um nada.

A vida muda,
O vento muda,
O tempo muda.
E quem sou eu para reclamar disso?
Sou apenas mais uma das metamorfoses ambulantes.

O problema é a pressa da mudança,
Que não pede licença nem permissão.
Vai assim, trocando tudo de lugar.
Nos deixando sem estrutura,
Sem nos dar tempo para pensar.

Então notamos que tudo mudou quando vemos um jardim florir.


Por Matheus Schneider

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Evolua.


Lá se foi mais um ano... se eu pudesse lhe dar apenas um conselho para 2014, este seria..

Evolua.

Nosso ciclo é praticamente nascer, evoluir e morrer, então se você já nasceu e ainda não morreu siga meu conselho; evolua.
Aproveite este novo período para fazer aquilo que realmente deseja. Ame. Acima de tudo e de todos e espalhe o seu amor da maior e melhor forma que conseguir. Viaje. Descubra os mais bonitos, os mais estranhos, exóticos, mais agradáveis ou até os mais feios lugares do seu país. Leia. Desde Tolstói até John Green e não deixe a literatura nacional ficar para trás, leia as revistas e os jornais, artigos e postagens, leia para seu filho, sobrinho, vizinho ou até a sua vozinha. Explore o que há de melhor e mais simples em cada momento, assista o pôr do sol e contemple o que há de mais singelo na chuva que cai de madrugada ou ao final da tarde. Visite ao menos uma vez esse ano uma cachoeira e sinta a sensação de liberdade que ela e todo o ambiente em volta irá lhe proporcionar. Sinta. Explore toda forma de sentir física e psicológica que há, se emocione, se enfureça, se entristeça mas ao fim de tudo isso sinta-se feliz e pense que estar vivo basta para saciar essa tal felicidade. Adote um animal, não o compre (é sério), adote, converse com ele, trate-o com carinho e o ame como a si mesmo. Seja gentil. Utilize todas as palavras de cumprimento e agradecimento que aprendemos no jardim de infância, mesmo que tais gentilezas não sejam retribuídas. Valorize seus pais, pois chegará o dia em que você olhará para as rugas deles e perceberá que muitas delas foram linhas formadas de preocupação com você. Fuja da rotina. Mude seu caminho, ande a pé ao invés de andar de ônibus ou metrô, vá ao cinema, teatros, parques, faça campeonatos de quem come Tic-Tac mais rápido, acorde cedo no domingo e faça um almoço diferente, dê um beijo bem apertado em sua mãe e assim que levantar abra a janela e contemple o céu sem essa frescura de que a luz do Sol vai ofuscar sua visão. Aprenda a contemplar. Tudo é motivo de contemplação, seja a beleza de uma florzinha ou até o trânsito movimentado daquele dia. Viva, pois ao final acabaremos deitados dentro de um caixão tendo somente a morte como companheira.
2014 está ai e se seus principais planos para este ano são arrumar um emprego, subir de cargo, encontrar um(a) namorado(a), emagrecer 10 quilos ou engordar 5 quilos, ir à academia ou comprar aquele smartphone novo aqui vai novamente o meu conselho... evolua!

Por Beatriz Bicalho

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

2014 será bom, pra NÓS

O que mudou não foi minha recente capacidade de subir em árvores, não foi o cabelo que comecei a deixar crescer, não foi a maquiagem de escanteio e muito menos o comportamento boêmio que abandonei. O que mudou não foi um grupo de tolices e superficialidades. E essa mudança não foi em mim. A mudança foi na maneira como eu vejo você. Seus olhos poderiam ser apenas mais um par comum de olhos castanhos, mas não são, é o SEU castanho e nenhum outro tom será meramente semelhante. A chuva é apenas chuva, mas a sua companhia em todo dia de tempestade vão sempre transformar aquelas gotas de água em saudade de você. Você me disse que estando longe me faria te esquecer logo. A mudança, hoje, benzinho... É que você não é mais apenas uma garota. Você não é um objeto de decoração no meu quarto, não é um rosto no trabalho. Você não é uma árvore no caminho de ida e certamente não é apenas uma ausência no de volta. Você não é o pé de pitanga, não é a chuva, não é um livro, não é uma colega, não é um filme, não é uma cidade, não é uma moto, não é uma camisa no armário. Você não é uma memória imposta por lugares ou objetos físicos. A mudança deste ano foi que você se mudou do mundo para dentro do meu coração, e de lá você não vai sair, estará sempre comigo e sempre em minha mente, quer eu queira ou não. Você foi a mudança. Você é uma mudança. Você é o meu nascer de sol mais bonito e não apenas uma companhia nele. A mudança, benzinho... É que você se tornou a beleza que eu vejo no mundo. A mudança é que hoje eu não consigo mais tirar você do pensamento, pois permiti que você fizesse dele o seu lar.

Por Helena Malaquias

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

O que uma tarde sozinho é capaz de fazer

Fazer diferente tem sido meu sacrifício diário. Não por ter que me desdobrar, essa parte me gratifica -abro a geladeira, busco algo para beber, em vão- o problema é quem sou. Eu sinto que a luta é mais ferrenha porque eu tenho que trava-la comigo mesmo –caminho lentamente para a varanda, vejamos o pôr-do-sol - é bem verdade que me impus não ser um lixo. O que há de importante nisso é o fato que –li uma vez que o cérebro pode ser um dos mais bem sucedidos parasitas- percebo que meu corpo me denuncia, me contradiz. O fato é que eu sei o que é certo, sei que não devo me importar com o que os outros pensam, entretanto sinto urgir a necessidade de perder 10 quilos. Sei que não tenho o melhor gosto musical do planeta, entretanto mecanicamente meu braço “escorre” do botão de ligar e em sua queda despropositada aumenta insanamente o volume. Eis que é verdade que eu não quero parecer de maneira alguma melhor que ninguém – preciso regar as plantas da varanda- mas me esforço para ter a pronuncia correta em inglês e evidenciar o fato de que apendi sozinho.
Diariamente eu me sinto atônito com as escolhas que fazem a minha volta. Eu não sei de nada, nem bem sei gramática, quem dirá escrever. No entanto estou consciente que o que eu aprendo, o que me falam, o que vejo, tudo é uma lição. Mais ainda, posto que eu aprendi, eu tenho o dever moral de aplicar o conhecimento quando for necessário, e se possível passa-lo para frente sempre que solicitado. O que há de difícil em “nadar contra a maré ”-vacilante vagueio pala casa, tocando os móveis, conferindo a mobília- é tão difícil mudar? Penso que a vida tenha se tornado monótona por comodidade, repetir dá certeza de resultados.
Deixar para traz algo que nos agrada é onde complica –encontrei uma caixa com objetos que guardo, e que já devia ter jogado fora- Eu conheço isso, estou certo do resultado que me trará, mas se é tudo tão bom, porque eu precisaria me desfazer dessas coisas? “Não adianta esperar resultados diferentes se sempre fazemos as mesmas coisas” se bem me lembro foi isso que ele me ensinou. É bem verdade que eu achava os métodos dele bem exagerados –sinto-me inquieto com essas coisas espalhadas, me levanto e volto a caminhar pelos cômodos sem vida-. O que me impedia de confronta-lo e dizer “Ei, por que diabos você precisa fazer comentários tão apelativos para atingir a turma? ”, é, ele tentava sempre chocar meus colegas dizendo coisas fora do comum, nenhuma delas mentira, isso não posso negar. Eu acho eu gostava daquilo. Ele tinha entre suas técnicas de lecionar, atitudes chocantes que beiravam a bipolaridade, entretanto ao que pude perceber, era parte do show, e eu ia pronto para absorver tudo a minha volta. Não sou de conversar muito quando não tenho intimidades. Nesse caso agucei-me a ficar na minha, tentando ser externo, não para me afastar, não, mas para estar completamente presente. Sentia que se eu participasse dos debates, e desse minhas opiniões, eu perderia detalhes das dos outros. Esse foi meu desafio.
Sinto-me divertido ao debater com alguém que sabe argumentar, que tenha opinião. Mas minha omissão deu frutos que preso bastante. Pude ver o que cada um fez, como cada um reagia ao se chocar com o professor “fora do comum”, pude, disso não me orgulho, classifica-los quanto a vivencia e habilidades, e assim escolhi os que queria para mim, os que eu queria por perto. O fato é que ele, em meio as suas lições a “pauladas” ele nos ensinou muita coisa incrível sobre a vida e sobre nós mesmos. E não, eu não passei desapercebido, ele me achou, me testou e me qualificou, tal qual ele fez com todos, embora comigo a abordagem tenha sido diferente.
Eu sou um escravo de mim mesmo e nessa situação eu percebi que eu sou um monstro. Mais ainda, sei que todos somos, camuflados em nós mesmos, com sutis trejeitos moldamos cada relação para que ela seja conivente a nosso modo de pensar. Sim, tratamos diferente cada pessoa –abro a geladeira em busca de algo para beber, em vão- mudamos o tempo todo. A monotonia é uma ilusão bem bolada. Temos a mania de acreditar que a sucessão de eventos lhes confere uma forma de conexão, ao jogarmos um temos a necessidade de prever o resultado a medida que se acumulam lançamentos, os resultados perecem se agrupar de maneira conhecida.
A verdade é que eu acho que sei o que eu tenho que fazer. Sei que tenho que parar de me isolar, sei que tenho que sorrir mais, e que tenho que evitar as ironias, pelo menos ao primeiro encontro. Me sinto desconfortável sendo assim, este não sou eu, mas concordo que se eu for quem eu quero ser, eu vou continuar falando besteiras a mim mesmo num domingo atarde em voz alta.

Por Leonardo Leite

Pamukkale e Machu Picchu

Namorar, emagrecer, ser independente, parar de fumar, de beber, de roer unhas, largar o futebol, e lógico, emagrecer ainda mais. O que tudo isso tem em comum? Metas. Todas são metas, focos, objetivos. Desafios que poderão se tornar reais, desde que o esforço se sobressaia.
2014 para os cristãos, 4711 para os chineses, 5775 para os judeus, 1392 para os muçulmanos e 2556 para os budistas. Nem todas as pessoas comemoram no mesmo dia o “Ano-Novo”. Eu comemoro em dezembro, outros em março, e assim sucessivamente. Porém, todas elas têm seus sonhos, suas vontades. E é por isso que o Ano-Novo é tão especial. Aquilo não feito em um ano poderá ser feito no outro. Põe-se aspas, por favor, nesse não feito aqui em cima. Até porque o porquê desse por quê... não, espera um minutinho. Confundi tudo, isso que dá conversar toda hora na aula de português. Quem sabe ano que vem eu estudo mai.... Opaaa, é isso que eu queria te falar, leitor. Esse negócio de ficar deixando pra lá, e/ou para depois, não tá com nada, viu?
Se você quer pular de paraquedas, ou beijar alguém, ou viajar para Pamukkale e Machu Picchu, vá. Explore. Viva. Gaste aquele dinheirinho para algo bom, algo que vá lhe valer a pena, que você terá orgulho de dizer para todo mundo que você fez. Abrace seu irmão, seu amigo, sua mãe e seu pai, agradeça ao seu deus, a sua divindade, pela sua casa, pela sua família, pela sua comida, pela suas amizades, pela sua vida. Faça de 2014 O ano. O Melhor Ano. Vire uma borboleta. Saia do seu casulo, e entre com tudo, voando e fazendo a alegria das pessoas.
Mude, Recomece, Sinta, Fale, Grite. Mostre que você pode Se mudar. A si mesmo. Afinal, o primeiro a mudar o mundo deve ser você mesmo.

Por Pablo Heringer Brandão

Pituco

 Pituco estava desconsolado, me olhava de soslaio, com o cantinho do olho redondinho, bem pretinho, bem caladinho, bem tremidinho, ali no cantinho da sala.
 O rabinho dançava enérgico, rápido, pra-lá, pra-cá, pra-lá, pra-cá, pra-lá, certo, você já entendeu...
De vez em quando soltava um gemidinho, um grunhido carregado de toda a dor do mundo, “rwoooon”, e seu corpo esquelético vibrava, parecendo que ia se despedaçar, como se estivesse exposto ao frio dos polos.
 Estava sentado em cima das bolinhas, dava dor de ver. É, das bolinhas mesmo. É, essas mesmo. Acho que estava se auto-mutilando, queria descarregar as angústias pelo desconforto no testículo. Porque realmente, devia estar insuportável.
 Ele latiu.
 - Calma Pituco, calma!
 Ele latiu de novo, fingindo que não me entendia.
 As orelhinhas, com as veias saltando, retorcidas para baixo, o rabinho entre as pernas, aquele olhinho pretinho vertendo lágrimas. As costelinhas saltando do tórax lânguido mostrando toda a robustez do corpinho de 5 quilos.
 - Ah, Pituco, não fica assim!
 Ele chorou, naquele cantinho, entocado, suspirando.
 Pituco havia perdido seu grande amor. Um travesseiro velho, que dei de presente quando ele era filhotinho. No início eles dormiam juntos. Depois a relação foi se complicando e Pituco jogava o travesseiro com força para tudo quanto é lado. Depois, a relação se aprofundou e Pituco e o travesseiro transaram muitas vezes. Um dia, no entanto, o travesseiro havia cedido, rasgando-se duma ponta à outra.
 As coisas são assim Pituco, um dia você tem o travesseiro, um dia você está no canto tremendo. Mas o travesseiro não foi embora, não. Ele te mudou, você é o Pituco-que-já-teve-o-travesseiro. Amanhã, não se sabe. Você pode ser o Pituco que caiu do caminhão de mudanças...


Por Matheus Queiroz