quarta-feira, 30 de abril de 2014

Você tem fome de quê?

 Júlio chega, deita o chão, dorme – dorme não, cochila -, acorda, bebe um leite na caixa mesmo, tenta sorrir, sorri, dessorri, escova os dentes com a pasta vencida, guarda o dedo usado pra a escovação, arruma o tapete, arruma as coisas, guarda as coisas, bebe água da bica pública, escolhe um lugar, arruma o lugar, tira as coisas, arruma as coisas, começa a afinar, a cantar, cantando O Barbeiro de Sevilla. Chega em casa, com 2 reais, pois os outros 5 estão na igreja. Liga o rádio e fica sabendo de todas as notícias dos “talentosíssimos” músicos ostentações e dos “gênios” jogadores de futebol. Com sua ignorância, num barraco no bairro da Maré, ele retira seus livros de Gabo e de Rosa, pensando em, amanhã, pesquisar sobre Einstein ou Gandhi na Biblioteca – caso, dessa vez, possa entrar mesmo sem ter uma Havaianas nos pés.

Por Humberto IV


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