segunda-feira, 14 de abril de 2014

O que não foi e o que era pra ser.


 Avistei de relance um senhor de idade avançada, ele varria com firmeza um monte de folhas. Pude notar que ele varia contra o vento e contra o declive da rua. Eram movimentos mecânicos que, em suma, empurravam perpetuamente o mesmo monte de um lado para o outo. Entre varridas e brisas, ele soltava um resmungo, um sussurro, uma exclamação. Folha a folha ele repassava um ato, uma fala, e um monólogo, empurrava-a para cima e como se o mundo apertasse o play, ele observava-a voltar junto com as imagens daquele dia em questão. Quando o filme termina, ele volta, os olhos retomam o foco e então ele percorre todo o caminho de volta, comentando o ocorrido com aquele que se tornara o seu melhor amigo, ele mesmo. Pouco a pouco as folhas vão se reagrupando com as ideias que já não lhe valiam mais, e com movimentos firmes ele expulsa os pequenos detritos, que voam para longe, deixando apenas as folhas que ali estão e as que ele achava que deveriam estar. Com a pilha limpa ele dá seu último parecer, faz suas indagações finais e conclui, mirando a pilha, que agora já está perfeita, o que aquele dia lhe ensinou. A brisa, entretanto não para e pilha logo muda de forma e adquire um aspecto diferente, toma nova forma e ganha volume. Um novo momento lhe chama atenção e aos poucos os seus olhos se perdem novamente, ele se apoia na vassoura: ”Eis que a mais o que discutir meu velho, acho que uma pilha só não vai dar pra esse caso.”

[Leonardo Wolf.]

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