São Paulo, 17 de fevereiro de 2014
Meu querido amigo,
Se me perguntares neste exato momento o porquê de eu estar lhe escrevendo, mesmo depois de tudo o que vivemos e do fim que levou nossa doce amizade, entrarei em meus devaneios psicóticos em meio as minhas lembranças e seria até capaz de gritar em frente a teu semblante que é por saudade. Sinto sua falta como uma abelha sente vontade de sugar um último vestígio de mel da mais bela flor vinda de sua última lembrança à beira da morte. Mas se eu tiver que lhe responder, então direi apenas que não sei.
Com um pouco de frequência me pego imaginando como estariam as coisas se ainda nos falássemos e nos víssemos. Mas após esses meus pensamentos retorno à minha realidade e reaprendo a lidar com a situação da perda. Com o tempo eu acabei me acostumando a ignorar muitas das coisas que te traziam de volta às minhas lembranças e meu coração já não pulsa fortemente como costumava acontecer. E me acostumei. Quero acreditar que a separação é apenas uma fase pela qual todos nós devemos passar e, em seguida, pular para o próximo estágio da vida. Então é assim que as coisas são, pois é assim que acredito que elas sejam.
Entenda claramente que acabou, por motivos óbvios ou não, já não importa mais. O que importa é que para mim você foi real, mesmo com todos ao meu redor concordando com o princípio da sua não existência e meu analista me convencendo, em partes, que preciso cuidar da minha saúde mental e você era o motivo de toda essa doença. Se houvesse alguma possibilidade qualquer de tornar tudo isso real tenha a certeza de que eu engoliria esta possibilidade, mas por enquanto deixo estas palavras no túmulo que construímos de tudo o que fizemos. Vem-me à cabeça a possibilidade de uma conexão entre o mundo real e o imaginário de tal forma que faça sentido eu dizer que se eu soubesse que aquela teria sido a última vez, eu teria lhe abraçado mais forte.
É dessa forma que me despeço.
Adeus. Se cuida.
Sua amiga.
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Por Beatriz Bicalho